segunda-feira, 13 de junho de 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Postagem 40



Nas últimas décadas, crescem consideravelmente as preocupações com as práticas de lazer da população e cada vez mais o assunto se torna motivação para a elaboração de políticas públicas e privadas de intervenção. No âmbito dessas iniciativas de atuação, podemos situar a construção de equipamentos de lazer, entre os quais aqueles destinados à prática esportiva (como quadras e ginásios), muitas vezes executada a partir da solicitação das próprias comunidades, ávidas por condições adequadas para o exercício de suas atividades no seu tempo livre.

Postagem 39

www.mostreseuvalor.org.br/.../Geusiani%20Pereira%20e%20Isabela%20Lopes.doc

Tem-se evidenciado, na contemporaneidade, que o agravamento de complexos problemas e fenômenos sociais tem contribuído para a deterioração da qualidade de vida urbana. Nesse cenário, que põe em voga a possibilidade de construir valores de vida e de resgatar a dignidade humana, a carência, fragilidade e/ou inexistência de espaços públicos de lazer inviabiliza o acesso de toda a população, especialmente daquela com precárias condições socioeconômicas, tidas comumente como em situação de risco e vulnerabilidade social, às condições necessárias para se viver bem.

Postagem 38

http://pordentrodastribos.blogspot.com/2008/06/esportes-urbanos-um-estilo-de-vida.html

Estudo  aperfeiçoado sobre os esportes urbanos em Campinas e seus universos ao mesmo tempo tão perto e tão longe, demonstrando muitas vezes o abismo que há entre um esporte e outro e como eles se completam. Como um esporte faz parte da vida de uma pessoa, se tornando um estilo de vida a seguir, uma tribo a zelar.

Postagem 37

http://videos.r7.com/esporte-urbano-praticado-em-ruas-e-pracas-reune-praticantes-em-porto-alegre-rs-/idmedia/4def5fd3b51a597468aeaea7.html

A ideia do esporte, conhecido como Le Parkour, é saltar de um ponto para o outro usando o máximo de agilidade, ultrapassando obstáculos como muros, escadas e brinquedos infantis de forma rápida. É um esporte urbano, precisa de praças e espaços amplos para acontecer.

Postagem 36

http://pkmaxparkour.com/samba/index.php?option=com_content&view=article&catid=8:artigos&id=216:mostra-de-esportes-urbanos-agita-as-ferias-em-lagoa-santa&Itemid=74&lang=

O cine9sete, única sala de cinema de Lagoa Santa, na grande BH, promove, entre os dias 26 e 28 de janeiro, a Mostra Mundo Urbano, com vídeos de parkour, skate, patins e BMX gravados nas regiões Nordeste, Centro Oeste, Sul e Sudeste do Brasil. São esportes muito praticados no meio urbano, principalmente nas praças, pode ser uma boa alternativa para a ocupação jovem...

Postagem 35



http://www.informaworld.com/smpp/content~content=a918661779


Este artigo em duas partes se baseia em diferentes tradições acadêmicas para destacar as tensões principais no centro do debate sobre o espaço público contemporâneo. Na verdade, há uma série de críticas distintas, mas relacionadas com a situação do espaço público contemporâneo, e são essas que a primeira parte deste trabalho identifica e se organiza. Ao fazê-lo também revela uma série de tipos de espaço público que são utilizados na segunda parte do trabalho para sugerir uma nova tipologia do espaço público.

Postagem 34

http://books.google.com/books/about/Contemporary_public_space.html?id=wz9UAAAAMAAJ




Crítico James Wines observa, "O tema deste livro," arquitetura não-volumétrica é a busca de alternativas criativas para os demais volumétrica "forma tornando" obsessão da arquitetura internacional de hoje... " Aqui estão mais de 50 importantes projetos experimentais contemporânea para espaços públicos localizados em todo o mundo terraplenagem e design de superfície, copa e abrigos, e outras formas de "micro-arquitetura". Como uma arquitetura de teoria não-volumétrica atraiu designers, incluindo o estúdio Acconci, Shigeru Ban, Eduard Bru, Manuel de Sola Morales, Isamo Nougichi, Toyo Ito, Wes Jones, Kengo Kuma, Torres e La Pena, Miss Mary, N! Studio, arquitetos NL, Oma, Site, Italo Rota, Sauerbruch e Hutton, Venturi e Scott Brown.

Postagem 33

http://www.mackenzie.br/17157.html

os espaços públicos têm sido colocados como um dos temas pervasivos em debates contemporâneos no campo das disciplinas que tratam do urbano, em particular naqueles do urbanismo e da arquitetura. A abordagem do tema segundo diferentes perspectivas, intenções, pressupostos, métodos de investigação e quadros teórico-conceituais faz-se acompanhar de uma proliferação de noções, conceitos e abordagens analítico-explicativas ou propositivo-projetuais

Postagem 32

http://www.editoracontexto.com.br/produtos.asp?cod=37


O ESPAÇO PÚBLICO NA CIDADE CONTEMPORÂNEA /Autor: Angelo Serpa

Qual o papel desempenhado pelo espaço público na cidade hoje? Por que poucos se beneficiam desse tipo de espaço teoricamente comum a todos? O espaço público na cidade contemporânea traça uma análise crítica do que ocorre hoje nas grandes cidades. 

Valendo-se de uma variedade de exemplos, o autor analisa o espaço público como arena de ação política de intervenção urbana e como mercadoria para consumo de poucos. Desafio para a geografia, assim como para outras áreas, o uso do espaço público hoje é tema de debates acalorados em todas as metrópoles e cidades médias. Este livro é uma importante contribuição para geógrafos, planejadores urbanos, arquitetos e todos os cidadãos usuários dos espaços públicos.


Postagem 31

http://www.villeconviviale.org/spip.php?article5&lang=fr

o espaço público urbano aparece como um analisador pertinente das urbanizações e dos processos de homogeneização que as acompanhariam. Dentro desta perspectiva, o espaço público urbano é considerado aqui como dispositivo técnico e objeto de uso urbano.

Postagem 30

http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/13539

Este trabalho tem como objetivo a compreensão dos processos de transformação do espaço público na sociedade contemporânea  discutindo a questão da democracia aliada à complexidade, enquanto possibilidade para a construção de um espaço público mais próximo do ideal.

Postagem 29

http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=meioambiente&tax=16872&lang=pt_BR&pg=5700&taxp=0&

Incentivo da PBH para manutenção de espaços públicos com premiação de áreas verdes da cidade bem preservadas!

Postagem 28

Parques públicos e controle social
Prof. Antonio Carlos Sarti
Curso de Bacharelado em Turismo, Faculdade de Gestão e Negócios,
Universidade Metodista de Piracicaba.
Filipe Antonio Sarti
Bacharelando em Psicologia, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Universidade de São Paulo
Profª. Drª. Elisabete Stradiotto Siqueira
Curso de Pós-graduação em Administração, Faculdade de Gestão e Negócios
Universidade Metodista de Piracicaba
RESUMO
Dentre as funções da cidade moderna, a do lazer exige a abertura de espaços livres, com acesso
público, tais como os parques, fruto direto do processo de urbanização. Projetados como objetos
urbanos, obedecem à concepção de salubrismo, à afirmação do costume de ver e ser visto no espaço
público, à necessidade de afirmação do poder, à valorização de um discurso estético e à função de
exercer o controle social. O modelo criado a partir da Inglaterra do século XIX, consagra-se com o
Central Park, em New York, nos EUA, e se dissemina durante o século XX, com influência em
cidades médias do interior de São Paulo, na atualidade. O artigo procura estabelecer uma relação
entre o método genealógico de Foucault e o processo civilizador de Elias, tendo como foco o uso
que a sociedade industrial faz do objeto urbano ‘parque’.
PALAVRAS-CHAVE
Parques públicos, salubrismo, urbanismo, controle social, lazer.
ABSTRACT
Among the functions of the modern city, the leisure is the one which requires the installation of free
spaces, with public access, such as parks directly resultant of the urbanization process. Projected as
urban objects, it obeys to the salubrism conception, to the affirmation of the custom of seeing and
being seen in a public space, to the necessity of power affirmation, to the valorization of an
aesthetical discourse and to the function of performing population control. The English Model Park
created in the 19th century is consecrated by the New York Central Park, in the USA, and
disseminates itself during the 20th century, with influence in medium cities in the Sao Paulo State
interior, nowadays. The article searches to establish a relation between the genealogical method of
Foucault and the civilizatory process of Elias, focusing the use that the industrial society makes of
the urban object ‘park’.
KEYWORDS
Public parks, salubrism, urbanism, social control, leisure.
INTRODUÇÃO
As práticas de higienização do ambiente surgidas no século XIX para equacionar o problema
da saúde pública, principalmente a partir da população pobre, mais numerosa, foram enfeixadas na
concepção de salubrismo, repercutindo tanto no ambiente interno da habitação ou seja, no modo
controlado e confortável de viver no espaço privado, como no meio ambiente, entendido como
extensão da habitação ou seja, o espaço público. Com a Carta de Atenas idealizando a cidade com
as funções da habitação, do trabalho e da recreação, tendo a circulação como articuladora, consagra2
se o espaço externo, higienizado e limpo, como extensão do interno, potencializando relações. O
parque público, como categoria de espaço livre de uso público, vai ganhar em importância não
apenas pelo que representa como ganho de forma de conforto e qualidade ambiental, mas também
como uma tentativa de exercer progressivo controle sobre o comportamento e emoções da
população.
Passa a integrar uma categoria de análise da paisagem urbana e se constitui num campo
especializado de ação profissional, encetando propostas de padronização à revelia da história da
urbanização e da diversidade cultural do nosso país.
Erguido sobre a tradição da praça pública ancestral, o parque urbano da sociedade industrial
será planejado para cumprir sua função utilitarista de revigoração da força de trabalho através da
recreação, com práticas físicas e mentais, social e culturalmente estabelecidas. A partir da
construção do Central Park, em New York (EUA), implanta-se um marco referencial que se afirma
durante o século XX e que perpetua um modelo seguido por outras culturas, inclusive em Rio Claro,
no interior do Estado de São Paulo.
É inconteste a importância que vêm assumindo os espaços livres – verdes e azuis – no
contexto das cidades modernas, atendendo aos pressupostos da cidade ideal. A modernidade está
impondo parâmetros diferentes para os quais é preciso buscar um entendimento que extrapole a
compreensão de que possam ser resultado natural do atual estágio de desenvolvimento social,
cultural, tecnológico, comportamental, segundo os valores do que seja “civilizado” no mundo
ocidental. Essa busca de referenciais para a análise permite identificar na sociologia configuracional
e no processo civilizador de Elias, assim como na abordagem genealógica de Foucault,
apontamentos e contribuições esclarecedoras do longo processo de formação do objeto ‘parque’ e
dos usos – explícitos e implícitos - que dele estamos fazendo enquanto equipamento projetado para
a vida urbana, o que pode estimular percepções derivadas de outras referências.
A partir das proposições de Foucault, quando busca explicar a genealogia do sujeito
moderno, é possível estabelecer um paralelo com o pensamento de Elias e o processo civilizador
que, neste caso, ao se colocar em foco a função urbana dada ao parque enquanto modalidade de
espaço público, expõe a intencionalidade explícita de oferecer mais um componente da maquinaria
de conforto ao mesmo tempo em que, como contrapartida, procura exercer o controle sobre as
emoções no corpo social, como intencionalidade implícita. É importante ressaltar que Foucault não
faz uma pesquisa sistêmica, ou seja, não é através da ideologia e da consciência que ele analisa o
controle dos indivíduos. São as práticas sociais, em suas redes de saber-poder, que ele enfoca: a
genealogia consiste em revelar o nível pré-conceitual que se configura nestas práticas, uma densa
rede de relações que se estende pela trama histórica. Foucault enfatiza sempre que essas estratégias
não têm um sujeito, um estrategista, quer dizer, as estratégias surgem a partir de um dispositivo
histórico, e, como tal, constituem-se a partir da rede de relações de força entre os saberes e os
poderes do corpo social. “O esforço de Foucault, como genealogista, é permanecer o máximo
possível na superfície das coisas, para evitar recorrer a significações ideais, tipos gerais ou
essências” (Dreyfus&Rabinow, 1995).
Para Elias (1993), o processo civilizador se dá ao longo de muito tempo. É resultado de
inúmeras gerações apropriando-se de suas características genéticas e experiências culturais,
definindo comportamentos, poder e o habitus. Ao criticar o conceito de civilização e cultura,
explicita que os comportamentos usuais, padronizados, habituais são tomados como características
do humano, finais e acabados e, assim, camuflam a constituição histórica e negligenciam o longo
processo subjacente. Os comportamentos socialmente aceitáveis assim como os sentimentos acerca
desses comportamentos, são processos de longa duração. O poder não se localiza permanentemente
num único grupo social, sendo distribuído de acordo com a dinâmica das posições desses grupos, o
que decorre que as figurações são historicamente produzidas. A espécie humana é a articulação eu,
nós e eles concomitantemente, o hominis aperti, que permite avançar para as análises da evolução
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do objeto ‘parque’ e dos usos nele previstos, projetados, planejados ou até mesmo aqueles que
parecem sair da mais espontânea reação ao ambiente criado com a utilização de outras formas de
vida (plantas, animais, fungos, insetos) como processo do entrelaçamento de uma complexa rede de
relacionamentos que carrega em seu desenvolvimento um forte componente não-planejado, atuando
sobre a estruturação das relações sociais.
A ADMINISTRAÇÃO DO ESPAÇO DA CIDADE COMO UMA TECNOLOGIA DE
MAPEAMENTO DA VIDA SOCIAL
O surgimento das Ciências Sociais e Humanas pode estar vinculado historicamente ao
desenvolvimento de um tipo de racionalidade administrativa que caracteriza a política das
sociedades modernas. Foucault considera que esse campo de saber administrativo começou a se
formar com o Renascimento, na mesma época em que Maquiavel escreveu O Príncipe. Na opinião
de Foucault, esse saber, voltado para a prática política, consiste em um ponto de ruptura no
pensamento político tradicional, que defendia a idéia de que o governo dos homens deveria servir a
um objetivo superior, espelhar o governo de Deus sobre a natureza; esse pensamento tem como seus
principais representantes Aristóteles e São Tomás, e era calcado sobre considerações metafísicas.
Maquiavel foi, talvez, o primeiro a considerar a política como um jogo de estratégias, sem
finalidades ontotéicas e orientada exclusivamente para a manutenção e o aumento do poder do
príncipe. Mas, para Foucault, o pensamento político moderno só foi inaugurado de fato nos autores
de manuais políticos e técnicos dessa mesma época, na teoria da Raison d’État, que considerava o
Estado como um fim em si mesmo, desvinculado de uma ordem ética mais abrangente e do destino
individual dos príncipes. A esses autores interessava exclusivamente a aplicação de programas
práticos de controle e disciplina dos indivíduos, utilizando as correntes tradicionais do pensamento
político para mascarar essas táticas. Foucault aponta para passagens pouco estudadas na obra de
Montesquieu, em O Espírito das Leis, como um exemplo dessa nova forma de racionalidade
administrativa orientada para a prática: ao contrário do pensamento tradicional, que buscava
estabelecer uma teoria geral do Estado, para esse saber prático-administrativo, o que se buscava era
definir a diferença, ou seja, eram as particularidades de cada Estado que deveriam ser medidas,
calculadas e somadas com eficiência. Para a administração era preciso um saber que mapeasse e
detalhasse os recursos do Estado, sua população, seus recursos, seus problemas, e medi-los não em
termos de virtudes, mas de força. Para Foucault, foi nesse momento em que a política transformouse
em bio-poder, quando os teóricos da Raison d’État colocaram a população como riqueza e suas
habilidades e competências como medida para a força de um Estado, e assim, cada indivíduo como
matéria-prima a ser trabalhada, aprimorada e domesticada para servir como potencialidade ao
Estado. As ciências sociais e humanas do século XIX têm aí seus primórdios, no uso de métodos
empíricos e investigativos a serviço dessa racionalidade política de mensuração e mapeamento da
vida social (Dreyfus&Rabinow, 1995).
SOBRE O ESTUDO DAS PRÁTICAS SOCIAIS INSCRITAS NO PROCESSO HISTÓRICO
Segundo Foucault, é preciso considerar as práticas sociais que se relacionam com os espaços
públicos não como uma organização centralizada nas mãos dos administradores, mas como uma
rede complexa de relações de força que abrange todo o corpo social. Em O Nascimento da Medicina
Social, Foucault descreve como a medicina moderna surgiu, a partir da socialização de seu objeto, o
corpo. Através de uma multiplicidade de práticas sociais, o corpo passou a ser tratado como força
estatal a ser trabalhada, desenvolvida e aprimorada, e a medicina compõe-se de técnicas específicas
para esse fim. Com o objetivo de assumir o controle da saúde individual e coletiva, diversas práticas
político-administrativas configuraram uma rede de relações de onde a medicina moderna emergiu
como uma estratégia dominante de bio-poder, ou seja, um poder sobre a vida: o mapeamento das
cidades, a homogeneização do poder jurídico, a higienização do espaço urbano e a medicalização
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das massas foram os elementos que essa estratégia reuniu. Neste caso, por exemplo, Foucault busca
explicar por que a medicina social se desenvolveu em conexão com uma tecnologia para tornar a
vida das cidades mais saudável, ou seja, ele pergunta pelas causas que suscitaram o
desenvolvimento de uma tecnologia médica com um objetivo específico, a partir de um novo o
campo de saber, o salubrismo. Encontra então diversos pontos que tornaram necessário o
mapeamento dos problemas de saúde, tal como eram vistos na época: o medo suscitado pelo caos
urbano, a poluição, o amontoado da população, a precariedade das habitações, o acúmulo de mortos
nos cemitérios e a má circulação do ar e da água pela cidade traziam a necessidade de se organizar o
saneamento da cidade por meio de uma política de higiene pública. Desenvolveu-se então uma
estratégia de poder que visava cuidar da vida, lançando mão de diversas medidas médicas, como a
quarentena e o internamento dos doentes, aliadas com medidas administrativas, como o mapeando a
cidade, a unificação de seu território e a constituição de um corpo jurídico homogêneo, com o
objetivo de controlar a saúde individual – a administração da saúde levou a cabo a socialização do
corpo, a partir da centralização de um campo de saber médico acerca dos indivíduos. Foucault
assinala que, especialmente na Inglaterra, onde o capitalismo estava mais avançado, a medicina
social desenvolveu instrumentos mais voltados para o controle da saúde das classes pobres, pois os
movimentos de massa levantavam uma urgência em promover políticas de controle sobre os
movimentos de revolta popular. A medicina inglesa foi a primeira a desenvolver técnicas de
assistência pública, como forma de exercer um controle mais eficiente sobre os indivíduos, e, ao
mesmo tempo, tornar as classes pobres mais aptas ao trabalho e menos perigosas para as classes
ricas: na Inglaterra, a medicina assistencial, o controle da força de trabalho e o esquadrinhamento da
saúde pública formaram um dispositivo estratégico que buscava responder aos problemas que
envolviam o acúmulo de capital e de poder.
Segundo Beguin (1991), o calor do encortiçamento e do confinamento, as drogas e o álcool,
a vadiagem pela rua, a promiscuidade, o anonimato das lodging-houses (pensões), a preguiça que
elege a sujeira mais do que o esforço compõem as facetas de um “conforto corporal selvagem”, sob
todos os pontos de vista negativos. Avaliavam os estudiosos que o tipo e as condições de vida dos
pobres, levava a um estado de letargia, tornando-os “incapazes de trabalhar e devem, portanto, ser
mantidos pela sociedade”. Inversamente, o “conforto corporal civilizado” visa melhorar as
condições de habitação dos pobres facilitando a satisfação das necessidades corporais “não
proibindo nem reprimindo, mas substituindo um modo de satisfação corporal cujos instrumentos e
efeitos eram incontroláveis, por um bem-estar cujos meios de produção e os efeitos possam ser
controlados e utilizados”. O acesso ao conforto civilizado (casa, água corrente, aquecimento, ruas,
praças e parques equipados e limpos) terá grande poder sobre aquele que os utiliza, ampliando o
sentimento de perda. Os pobres passam a ser mais flexíveis e solidários com políticas defesa da
propriedade e da “qualidade de vida”. As habitações passam por modificações internas e externas
visando atender à nova infra-estrutura. A maquinaria do conforto controla o comportamento privado
e o parque público, enquanto espaço extensivo da casa, dela faz parte para controlar o
comportamento social.
Do salubrismo desenvolve-se a idéia de melhores condições sanitárias associada à presença
de árvores e espaços onde elas pudessem ser plantadas e cultivadas, quando não preservadas
aquelas reconhecidas como as mais velhas. Cuidar de velhas árvores e até ao seu redor praticar
algum tipo de rito é atitude aceita e permitida. Plantar árvores passa a ser uma recomendação de
valorização social e política. Associa-se a presença de árvores à purificação do ar e a criação de
parques públicos ao combate das causas das epidemias. Segundo essa concepção, árvores e parques
tornariam o ar da cidade melhor e proporcionariam maior incidência de luz natural. Da mesma
maneira, passam a ser considerados insalubres as áreas alagadas, úmidas e margens de rios e
córregos, merecendo a ação que, amparada pelo salubrismo, amplamente aceito, promove o
aterramento, a retificação, o represamento, a drenagem, o desvio, o aprofundamento ou
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assoreamento de canais, a substituição ou até mesmo a supressão da vegetação. Da mesma maneira,
é aceitável a presença de animais domesticados, tais como ovelhas e gansos para pastagem e
manutenção do gramado (Thomas,1996). O salubrismo consolida-se num lento processo de
incorporação de novos hábitos valorizados naquele meio social e cultural.
As necessidades decorrentes do caos urbano criariam as condições políticas para que os
parques fossem projetados como objetos urbanos aos quais se associa a salubridade do ambiente e,
por decorrência, um mecanismo de controle das emoções, através das práticas pré-estabelecidas.
FUNÇÕES DA CIDADE MODERNA
O urbanismo é concebido inicialmente como a arte de embelezar a cidade, evoluindo à
medida que as cidades vão ganhando complexidade com as mudanças decorrentes da Revolução
Industrial, potencializando suas funções originais. Na esteira dos acontecimentos decorrentes da
Primeira Grande Guerra (1914-1918), avanços significativos ocorrem no domínio de técnicas de
concreto armado e de cálculo de resistência de estruturas, de distribuição de ar condicionado, de
separação entre pedestres e automóveis. Além do crescente domínio da técnica construtiva e de
novos materiais, as cidades estão superlotadas.
Com a realização dos CIAM – Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, a partir
de 1928, temas e práticas desenvolvidas pelo pré-urbanismo e pelas diferentes concepções de
urbanismo até aquele momento, procuram encontrar uma resposta à cidade industrial ou
“maquinista” que está se afirmando com o intenso processo de aglomeração populacional,
incorporação de novas tecnologias ao sistema produtivo e proliferação indiscriminada de sistemas
fabris. Converge para os CIAM a massa de pensamento e de propostas arquitetônicas desenvolvidas
em diferentes culturas e ambientes e, em 1933, durante a sua IV edição, em Atenas, formula-se a
Carta de Atenas que consagra as três funções fundamentais da cidade ideal: 1º, habitar; 2º, trabalhar;
3º, recrear-se, nesta ordem. O que determina a definição das funções urbanas “ideais” para a cidade
moderna, está colocado nos trabalhos de Le Corbusier que em 1922, expõe o estudo “Une Ville
contemporaine de 3 Milions d’Habitants”, onde afirma que o “urbanismo de hoje tem em
consideração as condições de habitação, de trabalho, de repouso e de circulação” (Le Corbusier,
1977) e constituindo a Carta de Atenas numa síntese dos seus trabalhos. O problema com a
habitação, especialmente aquela dirigida à massa de trabalhadores que não as têm é perseguido
desde o século XIX e vem obtendo abordagens diversas que oscilam da utopia ao utilitarismo. A
cidade é o local de trabalho produtivo por excelência, e garantir os espaços de circulação de pessoas
e mercadorias é fundamental, assim como o é assegurar a locação das unidades de trabalho e
otimizar as distâncias a serem percorridas. O cumprimento das funções no espaço será viabilizada
através da ocupação do solo, da organização da circulação e da legislação. A recreação ou a
possibilidade de práticas de uso do tempo livre faz parte deste conjunto de valores de conteúdo
utilitarista. Esse tempo, identificado originalmente como “recreação”, ganha novos contornos na
medida em que é reificado, que se identifica com uma atividade que pode ser escolhida e que
assume formas de comportamento mimético (Gebara, 2002). Outrora, se a formação do homem se
dava mais em suas relações com a cidade na dimensão do espaço natural agora, esta massa de tempo
pode ser um elemento de relacionamento com uma estrutura técnica (a cidade e seus espaços
equipados) planejada pela arquitetura moderna para influir igualmente na formação do cidadão e na
sua estrutura simbólica. Não conviu, portanto, na visão consagrada, deixar o uso desse tempo
desconectado da função central: o trabalho.
Os pressupostos estabelecidos pelos CIAM enfatizam o papel do projeto arquitetônico da
habitação em detrimento da unidade histórica em que se constitui a cidade. Desta maneira,
possibilita o utilitarismo das relações com o meio ambiente, agora visto como mera extensão das
funções previstas, para prover o homem de formação, moralidade e higiene.
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No entendimento de Argan (1998), “a cidade é uma entidade histórica absolutamente
unitária e (...) é o melhor aparato de mediação entre a cultura de classe [e a] cultura de massa (...)
que poderá garantir o caráter intrinsecamente democrático (...) da sociedade e da cultura,
estabelecendo em toda cidade uma circulação cultural uniforme que a torne, realmente, um sistema
de informação”. O que a modernidade tem feito é potencializar esses pressupostos numa “entidade
política que deve transmitir o sentido de seu caráter político, e não [vê] como possa fazê-lo se não
justificar o seu caráter político com seu caráter histórico”.
PARQUES, BEM-ESTAR SOCIAL E ESTRATÉGIAS DE PODER
A história mostra que o Estado, no papel de administrar a vida da população, aumenta seu
poder, fazendo-se presente na implementação desses programas urbanísticos. O que se percebe com
isso é que a racionalidade administrativa que concebe esses programas não é aquela das leis, do
contrato social ou da teologia: é na biotecnologia do corpo social que investe o poder do Estado. De
acordo com Foucault (1988), isto é possível graças às condições históricas que fazem da
multiplicidade das práticas sociais a composição de um efeito de conjunto, onde o Estado passa a
exercer uma função hegemônica, bio-política, ao segregar os espaços, hierarquizar os domínios e
garantir a manutenção do sistema de produção capitalista. São as condições históricas que colocam
para o Estado a preocupação com as questões biológicas, como a sexualidade e a reprodução dos
grupos sociais, a doença e a implementação de programas de saúde, o trabalho e a educação como
forma de produzir mão-de-obra apta, e a dor e as práticas punitivas, pois toda essa complexidade se
inscreve nas práticas de objetivação do corpo individual, ou, como diria Foucault, nas disciplinas do
corpo e nas intervenções de regulação do corpo social. Produz-se assim um dispositivo histórico
complexo, onde a regulação da vida da sociedade parte dos micro-poderes das práticas cotidianas
para configurar estratégias de poder de larga amplitude, dotadas de uma tecnologia voltada para o
bem-estar social e biológico da população. As praças públicas consistiriam em instrumentos para
essa racionalidade administrativa, como espaço de afirmação do seu poder político.
Existem antecedentes neste sentido: durante o Antigo Regime, as praças públicas foram
palco de execuções de criminosos, era o teatro dos suplícios, onde o poder do rei se afirmava pelo
direito de causar a morte ritualizada. Esses espetáculos foram o principal alvo da crítica dos
reformadores do século XVIII: o discurso humanista articulou uma série de elementos na forma
geral da contestação do poder absoluto e na busca de outras formas de punir. Entretanto, nesta
mesma época, o que se desenrolava no nível das práticas ilegais cotidianas era que os crimes contra
a propriedade privada começavam a prevalecer sobre os crimes violentos. Assim, o
desenvolvimento da produção, o conseqüente aumento das riquezas e a valorização da propriedade
criavam a necessidade de métodos mais eficientes de vigilância e policiamento. Estes fatores
combinados levaram a um afinamento das práticas punitivas, com o objetivo de harmonizar os
mecanismos de poder com os instrumentos de controle do corpo social. Tratava-se de estabelecer
uma nova economia do poder de castigar, não mais baseado nos excessos e arrogâncias do poder do
rei, mas que fosse “repartido em circuitos homogêneos que possam ser exercidos em toda parte, de
maneira contínua e até o mais fino grão do corpo social” (Foucault, 1997). A reforma do sistema
jurídico foi resultado de uma estratégia para o remanejamento do poder de punir, em uma nova
política em relação às ilegalidades; no Antigo Regime, havia uma ilegalidade tolerada: privilégio
para alguns, inobservância das ordenações, desusos e reativações súbitas da lei, consentimento mudo
do poder, bem como certas margens de tolerância nas camadas desprivilegiadas. “O jogo recíproco
das ilegalidades fazia parte da vida política e econômica da sociedade” (Foucault, 1997). Desse
modo, a reforma foi também uma reestruturação na economia das ilegalidades, pois o capitalismo
nascente precisava combater as ilegalidades populares, os roubos, e para isso foi preciso estabelecer
sistemas de vigilância constante sobre o corpo social. “Em suma, a reforma penal nasceu no ponto
de junção entre a luta contra o superpoder do soberano e a luta contra o infrapoder das
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ilegalidades toleradas e conquistadas” (Foucault, 1997). A crítica dos suplícios em praça pública
foi o ponto de união entre os que criticavam o poder do soberano e os que criticavam a ilegalidade
do povo. Em lugar dos rituais através dos quais se restaurava o poder do monarca, foram então
aplicadas receitas, terapêuticas como a eliminação dos doentes, o controle dos contagiosos, a
exclusão dos delinqüentes. A eliminação pelo suplício é, assim, substituída por métodos de assepsia
do corpo social: a criminologia, a eugenia, a exclusão dos “degenerados”... (Foucault, 2000).
Os jardins e os parques públicos, criações marcantes na urbanização européia a partir do
século XVI, erguem-se sobre a tradição da praça pública – o espaço de domínio público por
excelência - e não negam um envolvimento mitológico e estético com a natureza. A praça ancestral
perde seu caráter de lugar onde a espontaneidade se manifesta e cede lugar ao formalismo e à prática
da linguagem da dominação através dos ritos e objetos associados ao poder. Difunde-se o jardim,
retirado da esfera privada para a esfera pública, como um espaço onde as pessoas vêem outras e
querem ser vistas, obedecendo a regras e formalidades de comportamento (Segawa, 1996).
Os espaços públicos, concebidos na forma de parques urbanos, são destinados inicialmente a
ser áreas de deleite da elite e exibição do poder econômico e político. Também servem para
demonstrar a presença do Estado ao alterarem a paisagem primitiva com remoção de elevações,
drenagem e aterro de áreas alagadiças, substituição de vegetação, retificação de cursos hídricos,
construção de canais, barragens, diques, etc. ou, ainda, serem depositários de objetos integrantes do
patrimônio histórico e abrigarem monumentos, marcos referenciais da identidade local ou nacional.
Passam a representar lugares de maior proximidade com a natureza, mesmo que esta seja percebida
de maneira artificializada ou apenas enquanto cenário para uma situação idealizada. O parque,
agora, como simulacro da natureza, está dotado de novo significado, uma vez que identificado com
o moralmente benéfico e enobrecedor, com a natureza distante e ameaçada (Sarti, 2001).
As associações de conteúdos e significados vai tornando possível um nexo entre aumento do
número de habitantes nas cidades, sensação de pânico sanitário, queda das condições de segurança,
medo que as elites têm da massa pobre e ascensão do Estado legítimo para se fazer presente e de ser
ele próprio produtor do cidadão.
Os parques públicos são criados com a finalidade declarada de atender à necessidade de
espaço livre e de uso público destinado e equipado para o exercício físico e para as práticas que
recondicionem o corpo e a mente para a função do trabalho. São espaços urbanos que contemplam
uma concepção de corpo engendrada pelo capitalismo, como sendo uma “realidade bio-política”,
enquanto força de produção, enquanto força de trabalho (Foucault, 2000). Constituem-se, entretanto,
ainda, em objetos projetados para dar funcionalidade a áreas marginais ao processo de produção e
apropriação do espaço urbano. Cumprem uma finalidade estética prevista e atendem aos interesses
daqueles que controlam os processos políticos de decisão, amortecendo os possíveis impactos das
desigualdades perpetuadas no interior do sistema. Enquanto sistema de informação integrado ao
sistema informacional maior, articulam símbolos e signos construídos ao longo de séculos, distantes
da realidade cotidiana da contemporaneidade. O parque, como modalidade de espaço livre de uso
público, afirma-se como extensão da habitação.
O desenvolvimento das cidades estabelece constante conflito entre a pressão pelo esvaziamento e/ou
regulação dos espaços públicos e, portanto, restrição das possibilidades de socialização e expressão
da diversidade humana, e um movimento contínuo de seus habitantes visando se apropriarem e
definirem novos usos a partir de seus anseios.
A crise do mundo público começa a delinear-se quando os limites entre o sentimento
particular e a demonstração pública perderam sua nitidez. A expressão pública torna-se sinônimo de
representação pessoal expondo a vida privada no campo social; dessa forma, como tentativa de
manter a preservação da privacidade, o silêncio e a passividade passam a ser princípios da ordem
pública. No espaço público esvaziado, significa que estar em público é uma experiência pessoal e
8
passiva; a personalidade torna-se categoria social, a platéia é espectadora, não interfere, somente
testemunha (Sennett, 1988).
O esvaziamento do mundo público está intimamente relacionado com o tipo de crescimento
das cidades, com a transformação dos espaços de expressão pública em espaços de circulação; a
atomização da cidade que instaura os guetos, que represam a igualdade num único espaço,
impedindo a vivência das diferenças, e põem um fim na superposição de funções que criavam
complexidades de experiências e, portanto, sempre novas possibilidades de atuação.
As alterações de significado do urbano enquanto espaço público de vivência da diversidade
encontra suas origens no discurso higienista, que no início do século através de argumentações
tecnicistas, reconfigurou o espaço urbano através de estratégias de controle dos trabalhadores,
transformando os espaços de sociabilidade em circulação, trazendo uma nova configuração da
cidade e do papel de seus habitantes.
Nessa nova cidade onde o espaço se urbaniza, o espaço público deixa de ser
o lugar onde se forja a cultura e se transforma em puro espaço de circulação.
Esse movimento não passa desapercebido às representações, vindas de todos
os campos de saber, que dão corpo às imagens da cidade. Público e privado
são desenhados pelo imaginário como estando drasticamente separados e
passam a definir os novos padrões de conduta na cidade (Pechman, 1994).
A argumentação higienista, que estava baseada em melhorar a produtividade do trabalhador e
em conseqüência do capital, configura uma cidade que separa e compartimentaliza os espaços,
suprimindo a sobreposições de funções que davam vida à cidade, era uma tentativa de gerenciar a
vivência na diversidade humana.
Apesar da relativa vitória higienista em reconfigurar a lógica de ocupação da cidade, esta não
impediu de todo a ação contínua de seus moradores em reconquistar, ou re-criar espaços de
sobrevivência que respondam as suas necessidades objetivas e subjetivas.
Se a valorização do lar frente à rua, a evolução familiar e o mimetismo
sócio-cultural empurram o operário para o interior da casa (Perrot), nunca o
projeto higienista conseguirá esvaziar totalmente a rua das práticas e da
presença popular. Por mais funcionais, por mais que se especializem, os
espaços públicos são eternamente reinvadidos, repossuídos, reinventados,
por aqueles que dele fazem o jogo da vida (Pechman, 1994).
Por esse motivo perde-se a perspectiva de dinâmica da cidade, ou seja, os planejadores a
tomam como algo a ser controlado através de planos predeterminados que independem daqueles que
a ocupam, dos fatores sociais, técnicos, econômicos e culturais que movem seu cotidiano, e a partir
da idealização de um projeto urbanístico travam uma constante luta de adaptação do urbano a uma
lógica concebida estaticamente para a cidade que colide com a produção do espaço dado pelo
contínuo refazer de seus habitantes.
A cidade enquanto organismo vivo é refratária a qualquer atividade
planejada que a congele, ao contrário, o grande desafio do seu planejamento
consiste em incorporar, preditivamente, as possíveis alterações urbanas,
abandonando pretensões de soluções estáveis ou necessariamente corretas. É
necessário operar com a dúvida e a incerteza; esse é o desafio científico da
cidade que se transforma processualmente a partir de impactos ambientais
que sobre ela se deslocam e modificam física, social e culturalmente
(Ferrara, 1993).
9
Assim, se a lógica do salubrismo é investida de uma tentativa permanente de controlar as
emoções e os fazeres, no caso dos parques, vividos no espaço público, cabe instaurar a dúvida sobre
a eficácia de tal conduta.
Interpretar o uso que os cidadãos dão aos espaços públicos pode ser uma alternativa
interessante, que reivindica até mesmo a resignificação dos atos de depredação para além do
preconceito da inadaptação de uma população “inculta” para olha-los como forma de reconstrução
do urbano, como forma de resistência desta população quanto aos seus anseios sobre o mundo
público.
As intervenções urbanas são produzidas na articulação do trinômio meio ambiente, cultura e
historia e são reinterpretadas continuamente assumindo novos usos. A rigidez da regulação dos
espaços públicos produzirá incessantemente o confronto entre o passado, o presente e o futuro.
Incorporar a noção de provisoriedade e movimento, talvez seja um passo importante para pensarmos
o espaço público enquanto possibilidade de afirmação da individualidade1 sobre uma perspectiva da
cidade em movimento.
Para Cranz apud Magnoli (1986), o “movimento americano de parques”, evolui desde
meados do século XIX até o presente, em quatro fases, todas elas utilizando-se dos mesmos
elementos constitutivos da paisagem – água, árvores, flores, caminhos, sebes, esculturas, edificações
– mas em combinações distintas e diferentes predominâncias. Cada uma das fases indica metas
sociais a atingir e formas de reagir aos problemas decorrentes da urbanização. Na etapa 1, de 1850 a
1900, a “pleasure garden”, o parque é a busca de uma aproximação com a natureza, simplificando
seus elementos. Busca uma atmosfera bucólica, lembrando a vida no campo, em silêncio. São vistos
como verdadeiros “pulmões da cidade”. É um lugar para contemplação. Exercícios físicos mais
exigentes ou repetitivos ou que exijam memorização não são estimulados. São proscritos o
alcoolismo, a prostituição e os jogos de azar, assim como outras manifestações da cultura popular
e da moral dos imigrantes. É o lugar onde o comportamento em público para passear e fazer os
piqueniques é controlado pelos protetores da moral e dos bons costumes. A etapa 2, de 1900 a 1930,
a “reform park” ou “play-ground period”, reflete a necessidade de espaços para as atividades mais
próximos às residências e aos locais de trabalho e ganham uma programação que será condicionada
pelos equipamentos – os “play-grounds”. São de pequenas proporções e totalmente ocupados com
caixas de areia para brinquedos e exercícios físicos. Difundem-se informações sobre higiene, saúde,
alguma profissionalização e naturalização americana, ginástica, atividades esportivas, aos diferentes
grupos, idades e sexos. Ainda está presente a discussão entre recreação “ativa”, para participação e
“passiva”, para apreciação. Entre 1930 a 1965, identifica-se a etapa 3, a “recreation facility”,
significando a distribuição da recreação assegurada a todos, em nível nacional, no cotidiano, em
eventos, jornadas, em tal escala que se passa à implantação seriada e multiplicada de estádios,
grandes piscinas, quadras, arquibancadas e painéis de jogos e esportes. É massiva a participação na
recreação considerada ativa que se refina para atender deficientes físicos, idosos, cegos e
aposentados. A padronização se estende por todos os lugares, por toda a nação, em todas as
propostas. A partir de 1965 até agora, define-se a etapa 4, onde a cidade é essencialmente vista
1A distinção entre individualismo e individualidade é importante para compreendermos que tais conceitos referem-se a
projetos de sociedade radicalmente diferentes, pois enquanto o individualismo está centrado numa cultura do consumo
que homogeneíza necessidades e particularidades do sujeito, segundo Heller (1992) “a individualidade humana não é
simplesmente uma singularidade. Todo homem é singular, individual, particular, e ao mesmo tempo, ente humano
genérico (...) O homem torna-se indivíduo na medida que produz a síntese em seu Eu, em que transforma
conscientemente os objetivos e aspirações sociais em objetivos particulares de si mesmo e em que, desse modo
‘socializa’ sua particularidade”. Vale salientar que, para a autora, a busca do humano genérico, que está composto pela
sociabilidade, universalidade, consciência e a liberdade, não elimina a singularidade, pois o homem é ao mesmo tempo
particularidade e generalidade e só pode se constituir em sujeito quando vive simultaneamente estas duas esferas da vida
quotidiana.

Postagem 27

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PARQUES PÚBLICOS DE LAZER DE INTERESSE FÍSICO/ESPORTIVO1,
ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E POPULAÇÃO ATENDIDA
Recebido em: 17/01/2009 Aceito em: 28/05/2009
Junior Vagner Pereira da Silva2 Paulo Ricardo Martins Nunes3
Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP Campo Grande -MS -Brasil
RESUMO: Em decorrência da densidade demográfica, dentre outros fatores, tem se observado em algumas cidades brasileiras, a carência de locais públicos para vivência do lazer. Assim, objetiva-se avaliar a existência e distribuição geográfica dos parques públicos de lazer de interesse físico, a animação sócio-cultural desenvolvida no seu interior, bem como a população atendida. Os resultados indicam que Campo Grande/MS conta com cinco parques -região periférica (3) e central (2). Em todos os parques pelo menos um tipo de animação é disponibilizada, sendo os adultos e idosos os mais prestigiados. Conclui-se que, embora exista uma descentralização, a região oeste da cidade mostrou-se desprovida de parques públicos de lazer, assim como as oportunidades de animação sociocultural direcionadas às crianças/adolescentes e às pessoas portadoras de deficiência são inferiores quando comparadas aos adultos e idosos.
PALAVRAS CHAVE: Parque. Lazer. Cultura. Características Culturais.
1Dumazedier (s/n) propôs que o lazer pode ser vivenciado sob cinco interesses culturais – físico/esportivo,
intelectual, artístico, manual e social. Camargo (1986) acrescentou aos cinco interesses já existentes, o
interesse turístico.
2 Professor do Curso de Educação Física na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do
Pantanal – UNIDERP/ANHANGUERA; Líder do Laboratório de Pesquisas em Educação Física,
Rendimento Humano e Saúde/LAPERHS e Membro pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Pedagogia do Movimento -NUPEM/UNIMEP.
3 Coordenador do Curso de Educação Física na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região
do Pantanal – UNIDERP/ANHANGUERA; Pesquisador do Laboratório de Pesquisas em Educação
Física, Rendimento Humano e Saúde/LAPERHS.
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LEISURE PUBLIC PARKS WITH PHYSICAL/SPORT INTEREST
SOCIOCULTURAL ENTERTAINMENT AND POPULATION SERVED
ABSTRACT: Due to population density and other reasons, we can observe the lack of leisure places in some Brazilian cities. Thus, aims to evaluate the existence and distribution of public parks for recreation of physical interest, the socio-cultural animation developed in its interior, and the population served. The results show that Campo Grande has five parks, 3 on peripheral regions and 2 in central. In all of them, at least one kind of animation is available, adults and elderly are more prestigious. We can complete, though there is decentralization, the west region is devoid of public parks for recreation, as the opportunities of sociocultural animation for children/teens and disabled people are lower if compared to adults and elderly.
KEYWORDS: Park. Leisure. Culture. Cultural Characteristics.
INTRODUÇÃO
A sociedade, nas últimas décadas, tem passado por grandes transformações; transformações essas que influenciam diretamente o estilo de vida da população. Dentre as diversas mudanças ocorridas no estilo de vida das pessoas, figura a falta de oportunidade da vivência prática do lazer de interesse físico.
Em parte, isso tem ocorrido pela rua, local que por muito tempo foi palco de jogos e de atividades recreativas de adultos e crianças (ARIÈS, 1981), ter se transformado num espaço específico para o tráfego de veículos automotores (CORREA, 2004); pelo desenvolvimento arquitetônico sem planejamento, decorrente do grande deslocamento da população rural em direção aos grandes centros (MARCELLINO, 2002; MARCELLINO et al., 2006) e pela valorização demasiada dos terrenos urbanos (PERROTI, 1982). Em conseqüência, o espaço público tem deixado de ser um local de encontro, de prazer, de lazer, de festa, de circo e de espetáculo, perdendo, com isso, seu caráter multifuncional (MARCELLINO et al., 2006).
Assim, embora considerado como um direito legal estendido a todas as faixas etárias, classes sociais, sexos, etnias, segmento da sociedade, entre outros, esses fatores
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que atuam como barreiras, acabam diminuindo, ou até mesmo impedindo, que grande parte da população tenha acesso ao lazer.
Buscando amenizar esses problemas, políticas públicas de lazer, através da construção de equipamentos específicos, têm sido criadas em algumas cidades brasileiras. No entanto, mesmo com a criação desses locais, outros problemas têm sido identificados, pois muitas vezes eles são construídos em zonas que congregam a população de maior poder aquisitivo (região central), minimizando o acesso das pessoas que residem na periferia (MELO, 2003).
Em estudo desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro – RJ, Melo e Peres (2004) constataram distorções quanto à distribuição dos bens culturais em relação à divisão social, pois grande parte dos equipamentos (42%) encontrava-se situados na região do Botafogo, Copacabana, Lagoa, Tijuca, Vila Isabel e Rocinha.
Dias et al. (2008) apresentando resultados parciais de pesquisa desenvolvida no Rio de Janeiro e Niterói (Brasil), Medellín e Bogotá (Colômbia), Caracas e Maracaíbo (Venezuela) e Buenos Aires (Argentina), indicam que nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói a distribuição dos equipamentos de lazer apresentava grande desigualdade, uma vez que das 33 Regiões Administrativas (RA), quatro não possuíam nenhum dos tipos de equipamentos investigados, enquanto a RA central e RA Botafogo tinham, respectivamente, 24% e 16,4%.
A disparidade na distribuição desses bens culturais também foi identificada em Natal -RN, em estudo realizado por Lima (2006). Os resultados indicaram que a cidade apresentava uma distribuição irregular dos espaços públicos de lazer por bairro e região, sendo que se encontravam mais concentrados em determinadas áreas da cidade, com escassez em outras. A centralização dos equipamentos de lazer em Natal – RN, também
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foi constatada em estudo desenvolvido por Oliveira et al. (2004). Na ocasião, os autores verificaram que os ginásios esportivos, museus, teatros, parques ecológicos, entre outros -localizavam-se, em sua maioria, na região central da cidade.
Segundo Marcellino (2002), a centralização dos equipamentos de lazer acaba ampliando ainda mais as barreiras já existentes, principalmente entre as populações menos favorecidas economicamente, pois além de arcarem financeiramente com o transporte de casa aos parques, o deslocamento é muito desgastante.
A falta de conservação e animação sócio-cultural também configuram-se como fatores inibidores das oportunidades de lazer. De acordo com Bramante (1992), na maioria dos investimentos à área de recreação e lazer, cerca de 80% acabam sendo destinados para a construção de recursos físicos, fazendo com que pouco sobre para a manutenção e menos ainda para a animação.
Diante dos fatores que podem agir como barreiras às oportunidades de lazer, este estudo teve como objetivo analisar a distribuição geográfica dos parques de lazer de interesse físico (equipamentos específicos) em Campo Grande – MS, a animação sócio-cultural desenvolvida no seu interior e as populações atendidas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi caracterizada como exploratória, pois segundo Oliveira (2002), esse tipo de investigação possibilita a descoberta de práticas que precisam ser modificadas, assim como permite a elaboração de alternativas que possam ser implantadas.
A avaliação da disponibilização ou não dos equipamentos de interesse físico do lazer e sua distribuição geográfica se deu através de entrevista estruturada (MARCONI
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e LAKATOS, 2002), realizada com um representante da Fundação Municipal de Esportes de Campo Grande e com um representante da Fundação Estadual de Esportes MS.
Para a análise dos programas de animação sócio-cultural foram realizadas entrevistas estruturadas (MARCONI e LAKATOS, 2002) com os administradores dos parques. Na ocasião foi utilizado um formulário criado especificamente para os objetivos deste estudo, sendo o mesmo composto por questões referentes à animação sócio-cultural direcionada à comunidade em geral e a grupos específicos – crianças/adolescentes, adultos, idosos e pessoas portadoras de deficiência -PPD.
A coleta de dados da presente investigação ocorreu no segundo semestre de 2006.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Fundada em 1872 e emancipada em 1899, Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, possui posição privilegiada geograficamente, localizando-se no centro do Estado. A cidade tem mais de 500 hectares de área verde contígua, distribuídos entre parques, reserva ecológica, horto florestal, praças, jardins e ruas arborizadas. Possui 8.096,05 km2 e uma população de 724.524 habitantes (IBGE, 2007).
Embora a ausência de espaços físicos venha sendo citada nas últimas décadas como uma das principais barreiras às oportunidades de lazer, Campo Grande
– MS, dispõe de cinco parques públicos esportivos, sendo que, desses, três são administrados pelo poder público estadual (Parque Airton Senna, Parque Jacques da Luz e Parque das Nações Indígenas) e dois pelo poder público municipal (Parque Belmar Fidalgo e Parque Soter).
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Foto 2 – Parque Jacques da Luz
Foto 3 – Parque das Nações
Soter
Foto 1 – Parque AirtoFno Stoe n3a – Parque das NaFçoõteos 2 I n–dPígaernqause Jacques da Luz
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Em parte, isso se deve ao fato de Campo Grande, mesmo sendo capital do estado, não ter se tornado um pólo industrial, minimizando, desse modo, o deslocamento da população da zona rural para a zona urbana. De acordo com os dados do Perfil Socioeconômico de Campo Grande, a capital possui uma densidade de 21,24 hab/ha, índice considerado baixo quando comparado a outras capitais brasileiras (CAMPO GRANDE, 2005).
Em relação a reserva e distribuição espacial, há de se destacar os cuidados que os governantes e arquitetos tiveram em seu planejamento, pois em 1909 foi solicitado ao arquiteto Nilo Javary Barém a elaboração de um plano de desenvolvimento arquitetônico para a cidade, denominado de “Plano de Arrumamento de ruas e praças”, assim como que o arquiteto desenhasse a primeira planta da cidade. Em 1921 precauções legais quanto à reserva espacial também já era pauta das discussões políticas, sendo essa questão constatada na redação da Resolução nº 043/1921, que em seu artigo 7º determinava a obrigatoriedade de projeção de ruas e calçadas largas, com 50 metros para a avenida principal e 20 metros para as demais ruas.
Outro fato importante foi a influência do arquiteto Jaime Lerner na estrutura arquitetônica da cidade, que no final da década de 70, desenvolveu um plano de reestruturação da infra-estrutura urbana campograndense, sendo seu trabalho baseado em três pontos: trabalho, deslocamento e lazer. Especificamente ao lazer, constou em sua proposta a criação de um sistema de parques lineares e praças locais.
Medidas de reserva e preservação de grandes áreas urbanas como as apontadas anteriormente, foram de suma importância para que os governantes estadual e municipal mobilizassem-se no sentido de criação, manutenção e animação de parques públicos esportivos, principalmente no período de 1998-2004, quando o governo do Estado de
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Mato Grosso do Sul teve a frente da Fundação Estadual de Esporte – FUNDESPORTE (1999-2004) e Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer – SEJEL (2004-2004) o professor de Educação Física Rodrigo Barbosa Terra, responsável pela implantação de uma política pública de lazer cidadã junto ao estado.
Na distribuição dos parques, observou-se que houve uma preocupação com a descentralização dos mesmos, uma vez que dos cinco existentes, três encontram-se em regiões periféricas -Parque Airton Senna (Bairro Aero Rancho), Parque Jacques da Luz (Bairro Moreninhas) e Parque Soter (Bairro Mata do Jacinto) e dois na região central – Parque Belmar Fidalgo (centro) e Parque das Nações Indígenas (Bairro Santa Fé). Contudo, mesmo existindo uma preocupação por parte das autoridades públicas quanto a descentralização desses locais, ainda existe região (oeste) não contemplada com esse bem cultural, além de apenas um parque desse porte por região ser insuficiente para atingir a população dos bairros circunvizinhos.
A ausência desse bem cultural na região oeste pode estar restringindo as oportunidades de lazer da população dessa localidade, pois de acordo com Marcellino (2002) a democratização dos equipamentos públicos de lazer é de suma importância para a elevação das oportunidades de acesso, principalmente entre as classes menos favorecidas economicamente, uma vez que a centralização desses locais acaba minimizando o seu uso. Para o autor, isso ocorre principalmente pelos gastos com a passagem e pelo cansaço oriundo do deslocamento porque, em sua maioria, as pessoas de classe econômica baixa, têm o transporte coletivo urbano como principal meio de deslocamento e este, por sua vez, quase sempre está lotado.
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Nas dependências dos parques verificou-se que todos tinham quadras de areia, quadras esportivas abertas e pistas de caminhada. Além disso, conforme mostra a TAB. 1, alguns possuíam campos de futebol, ginásios e piscinas.
A diversificação dos espaços existentes no interior dos parques de lazer é de grande valia para que diferentes vivências venham a ser experimentadas, pois quanto mais diversas forem as possibilidades maior serão as oportunidades de escolha.
Quanto às atividades desenvolvidas, conforme mostra a TAB. 2, todos os parques ofereciam ao menos um tipo de exercício físico/esporte à população. Todavia, apenas os parques Airton Senna e Jacques da Luz -parques que contam com atividades de interesse físico/esportivo administradas pelos cursos de Educação Física de duas Universidades local e desenvolvidas enquanto extensão -disponibilizavam um conjunto de atividades à comunidade.
A extensão universitária é indicada por Paiva e Marcellino (2004) como uma importante estratégia de maximização das oportunidades de lazer, devendo constituir-se num canal de relacionamento entre a Universidade e os diversos grupos sociais. No entanto, os autores ressaltam que, para tanto, faz se necessário ela não ser desenvolvida apenas enquanto tarefa, mas de forma reflexiva, entendendo seus agentes que essa se constitui numa possibilidade de duplo processo educativo.
Quando analisada a animação direcionada à populações específicas, verificou-se que apenas os parques Jacques da Luz e Airton Sena disponibilizavam atividades às crianças e adolescentes.
Embora prestigiados pela quantidade de atividade, crianças/adolescentes se vêem prejudicadas na animação sociocultural nos parques, porque apenas dois contam
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com atividades específicas a essa população. Esse resultado aponta para uma outra barreira atuando como fator inibidor das possibilidades de lazer: a faixa etária.
Embora na idade adulta as pessoas se vejam ocupadas com as atribuições trabalhistas, uma vez que é nessa fase que as responsabilidades aumentam, fazendo muitas vezes o trabalho produtivo ser tido como o principal campo de atuação, relegando, assim, o lazer a segundo ou último plano (ALVES; ISAYAMA, 2006), os resultados mostram que essa população, juntamente com os idosos, configuram-se como as mais prestigiadas, tanto pela quantidade de parques que disponibilizam esse tipo de atendimento quanto pela quantidade de atividades desenvolvidas neles.
Acredita-se que isso possa estar relacionado ao aumento da divulgação e busca da população pela melhora do bem estar, qualidade de vida e saúde, pois os exercícios físicos podem resultar em contribuições para o aspecto físico, psicológico e social.
Especificamente aos idosos, a disponibilização de atividades físicas sistematizadas em vários parques públicos pode ser decorrente da maior atenção dada a essa população nos últimos anos, principalmente após a criação do Estatuto do Idoso em 2003. E, ainda, pode ser decorrente do aumento da perspectiva de vida, haja vista que em 2002, estimava-se uma vida média de 67,8 anos, devendo atingir os 74 anos em 2020 (VERDERI, 2002) e da preocupação com a qualidade desses anos; pois de acordo com Lorda (2001), ao valor da longevidade, torna-se necessário considerar também a qualidade desses anos a mais.
De acordo com Rauchbach (2001), a prática regular de atividades físicas na terceira idade oferece proteção à saúde e contribui para a recuperação de determinadas funções orgânicas interdependentes.
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As Pessoas Portadoras de Deficiência – PPD’s figuraram como a população mais prejudicada quanto às oportunidades de atividades físicas de lazer, pois apenas o basquetebol adaptado é oferecido em um único parque, e, ainda assim, é trabalhado com base na performance, quando se busca preparar a equipe da cidade para disputar campeonatos.
Percebe-se que além de deficitária, as poucas tentativas de inserção das PPD´s no esporte vem ocorrendo através de competições adaptadas, como o esporte paraolímpico, sendo poucos os avanços no sentido democrático, uma vez que o esporte paraolímpico tem sido conduzido sob o mesmo “ranço” do esporte convencional, predominando os princípios da competição.
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TABELA 1
Equipamentos físicos disponíveis no interior dos parques públicos de Campo Grande – MS
Parques Públicos
Parques Jacques da Luz
Parque Airton Sena
Parque Belmar Fidalgo
Parque Nações Indígenas
Parque do Soter
Ginásio poliesportivo
1
1
-
-
-
Palco para ginástica
1
1
-
-
-
Salas para ginástica
2
2
-
-
-
Quadra esportiva
2
5
2
2
2
Quadra de areia
1
2
2
1
2
Campo de futebol
1
4
1
-
1
Pista de caminhada
1
1
1
1
1
Estádio
1
-
-
-
-
Piscina
2
2
-
-
-
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TABELA 2
Atividades de animação sócio-cultural e população atendida no interior dos parques públicos de interesse físico do lazer
CRIANÇAS/ADOLESCENTES Futsal
Jacques da Luz x
Parques Públicos e Animação Sociocultural Airton Sena Belmar Fidalgo Nações Indígenas X
Soter
Handebol
x
X
Voleibol
x
X
Basquetebol
x
X
Natação
x
X
Ginástica Olímpica
x
X
ADULTOS Ginástica Hidroginástica Caminhada Axé
x x x
X X X X
x x
x
x
IDOSOS Ginástica Hidroginástica Caminhada Axé PPD Basquetebol adaptado
x x x
X X X X X
x x
x
x
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Nesse sentido recorremos aos escritos de Tolocka (2006):
[...], guiado pela lógica capitalista, o espetáculo prega a alegria da alta performance como prazer compensatório ao esforço despendido em sua conquista; legítima-se o sofrimento em nome da ultrapassagem dos recordes. Fala-se em saúde, mas se despreza a qualidade de vida; os índices obtidos legitimam os infortúnios (p. 178).
A carência de atividades de lazer nos parques voltadas para essa população pode estar relacionada à adoção de uma política de animação generalista, pois, para atenderem a um maior número de situações, as políticas públicas de lazer acabam assumindo essa condição e fazem com que aqueles que possuem alguma diferença em relação ao “padrão/normal” (grifo nosso) sejam os mais prejudicados (PINHEIRO, 2003). E mais, pode estar relacionada a uma incapacidade da sociedade em assimilar as respectivas necessidades dessas pessoas (MUNSTER, 2004), uma vez que, “ao longo das épocas e em toda a humanidade, o acesso ao esporte pelos indivíduos portadores de deficiência sempre foi limitado por barreiras estruturais, de equipamentos, e, essencialmente, da ordem social” (AZEVEDO e BARROS, 2004, p. 77).
Dessa forma, no caso das PPD´s, a exclusão acaba ocorrendo duplamente, assim, e como ocorre com grande parte da população brasileira, eles também estão submetidos a um estado de subsistência e, segundo, devido a uma restrição física, sensorial, cognitiva ou comportamental, sua autonomia é prejudicada. Com isso, as barreiras sociais às vezes acabam sendo mais restritivas às oportunidades de lazer que as arquitetônicas (BLASCOVI-ASSIS, 2003). Segundo Blascovi-Assis (2003), em razão desses preconceitos e dos padrões estabelecidos pela sociedade, pessoas com deficiências físicas, mentais, visuais, auditivas ou múltiplas acabam sendo excluídas de quaisquer programações sociais, sendo praticamente inexistente uma opção de lazer em
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sociedade para eles, e isso pode resultar em desastrosas conseqüências, uma vez que possivelmente não terão a possibilidade de escolher seus amigos, brincadeiras, passatempos e, por falta de oportunidades e orientação, não poderão, ou nem saberão, escolher seu lazer.
CONCLUSÃO
Constatou-se a existência de uma razoável distribuição de parques públicos de lazer, apresentando, desse modo, indícios de uma preocupação por parte das autoridades públicas com a democratização do espaço. Contudo, vale ressaltar que Campo Grande faz jus ao seu nome, apresentando uma ampla extensão territorial, devendo os poderes públicos municipal e estadual, individualmente ou em parceria, além de aterem-se à necessidade de manutenção dos já existentes, criarem novos parques, principalmente na região oeste da cidade, onde nenhum equipamento desse porte foi identificado.
Em relação à animação sócio-cultural, problemas foram observados quanto às populações atendidas, sendo apenas os adultos e idosos prestigiados na maioria dos parques. Essa realidade pode restringir as oportunidades de lazer das crianças/adolescentes e deficientes físicos campograndenses, contribuindo para que o direito ao lazer, legalmente outorgado por diversas leis, não seja efetivado.
Assim, faz-se necessário que estratégias sejam criadas a fim de que toda diversidade humana – pessoas portadoras de deficiência ou não, entre outros -, seja atendida, respeitando, com isso, os direitos de todo cidadão.
Com relação às atividades voltadas para os PPD´s, entendemos ser necessário que os macro-equipamentos de lazer de interesse físico através da disponibilização de jogos adaptados e animadores capacitados para atuarem com atividades, tais como
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danças artísticas em cadeira de rodas, tênis de mesa, futebol, judô, goolboll, basquetebol, bocha, natação, atletismo, e outros, sejam democratizados nesses espaços, permitindo a ampliação das possibilidades de vivência do esporte e socialização, configurando-se condição sine qua non para maior socialização entre os PPD´s, ou seja, entre estes próprios e com as demais pessoas, pois disponibilizar atividades de lazer e aparelhos adaptados em parques públicos é uma das possibilidades de educação para o convívio social.
Necessário se faz também que, na criação de novos equipamentos e reordenação da animação sócio-cultural, a população em questão, a exemplo do ocorrido no Parque Airton Sena em 2002, seja ouvida e a realidade local levada em consideração, possibilitando, desse modo, que o direito ao lazer seja usufruído por todos, sem restrição.
Ainda, ressalta-se a importância da intensificação de parcerias entre administração pública estadual e municipal com as universidades locais, no que tange à animação sociocultural dos equipamentos, assim como que o trabalho a ser desenvolvido seja planejado em conjunto com a comunidade local, a exemplo do já ocorre entre a Prefeitura Municipal de Campo Grande e a Universidade Dom Bosco (Parque Airton Sena – Jardim Aero Rancho). Igualmente fundamental é se fazer com que a animação sociocultural seja implantada sob a estrutura piramidal proposta por Dumazedier (s/d), tendo como base da estrutura os animadores voluntários, como intermediários, os animadores de competências específicas e, no topo, os animadores de competência geral.
Por fim, é importante salientar que os dados ora apresentados são relativos apenas aos parques públicos de interesse físico. Assim, necessário se faz que novos
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estudos sejam realizados a fim de investigar a existência e distribuição de outros
equipamentos de lazer relacionados ao interesse físico -praças, campos, ginásios, pistas
de caminhada, estádio, e outros -, como também a investigação de outros interesses
culturais do lazer -museus, cinemas, bibliotecas públicas, parques infantis, teatros, e
outros, permitindo uma reflexão mais aprofundada sobre a política de democratização
do espaço para o lazer e animação sócio-cultural em Campo Grande – MS.