domingo, 12 de junho de 2011

Postagem 27

Junior Vagner P. da Silva e Paulo Ricardo M. Nunes Parques Públicos de Lazer de Interesse...
PARQUES PÚBLICOS DE LAZER DE INTERESSE FÍSICO/ESPORTIVO1,
ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E POPULAÇÃO ATENDIDA
Recebido em: 17/01/2009 Aceito em: 28/05/2009
Junior Vagner Pereira da Silva2 Paulo Ricardo Martins Nunes3
Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP Campo Grande -MS -Brasil
RESUMO: Em decorrência da densidade demográfica, dentre outros fatores, tem se observado em algumas cidades brasileiras, a carência de locais públicos para vivência do lazer. Assim, objetiva-se avaliar a existência e distribuição geográfica dos parques públicos de lazer de interesse físico, a animação sócio-cultural desenvolvida no seu interior, bem como a população atendida. Os resultados indicam que Campo Grande/MS conta com cinco parques -região periférica (3) e central (2). Em todos os parques pelo menos um tipo de animação é disponibilizada, sendo os adultos e idosos os mais prestigiados. Conclui-se que, embora exista uma descentralização, a região oeste da cidade mostrou-se desprovida de parques públicos de lazer, assim como as oportunidades de animação sociocultural direcionadas às crianças/adolescentes e às pessoas portadoras de deficiência são inferiores quando comparadas aos adultos e idosos.
PALAVRAS CHAVE: Parque. Lazer. Cultura. Características Culturais.
1Dumazedier (s/n) propôs que o lazer pode ser vivenciado sob cinco interesses culturais – físico/esportivo,
intelectual, artístico, manual e social. Camargo (1986) acrescentou aos cinco interesses já existentes, o
interesse turístico.
2 Professor do Curso de Educação Física na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do
Pantanal – UNIDERP/ANHANGUERA; Líder do Laboratório de Pesquisas em Educação Física,
Rendimento Humano e Saúde/LAPERHS e Membro pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Pedagogia do Movimento -NUPEM/UNIMEP.
3 Coordenador do Curso de Educação Física na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região
do Pantanal – UNIDERP/ANHANGUERA; Pesquisador do Laboratório de Pesquisas em Educação
Física, Rendimento Humano e Saúde/LAPERHS.
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LEISURE PUBLIC PARKS WITH PHYSICAL/SPORT INTEREST
SOCIOCULTURAL ENTERTAINMENT AND POPULATION SERVED
ABSTRACT: Due to population density and other reasons, we can observe the lack of leisure places in some Brazilian cities. Thus, aims to evaluate the existence and distribution of public parks for recreation of physical interest, the socio-cultural animation developed in its interior, and the population served. The results show that Campo Grande has five parks, 3 on peripheral regions and 2 in central. In all of them, at least one kind of animation is available, adults and elderly are more prestigious. We can complete, though there is decentralization, the west region is devoid of public parks for recreation, as the opportunities of sociocultural animation for children/teens and disabled people are lower if compared to adults and elderly.
KEYWORDS: Park. Leisure. Culture. Cultural Characteristics.
INTRODUÇÃO
A sociedade, nas últimas décadas, tem passado por grandes transformações; transformações essas que influenciam diretamente o estilo de vida da população. Dentre as diversas mudanças ocorridas no estilo de vida das pessoas, figura a falta de oportunidade da vivência prática do lazer de interesse físico.
Em parte, isso tem ocorrido pela rua, local que por muito tempo foi palco de jogos e de atividades recreativas de adultos e crianças (ARIÈS, 1981), ter se transformado num espaço específico para o tráfego de veículos automotores (CORREA, 2004); pelo desenvolvimento arquitetônico sem planejamento, decorrente do grande deslocamento da população rural em direção aos grandes centros (MARCELLINO, 2002; MARCELLINO et al., 2006) e pela valorização demasiada dos terrenos urbanos (PERROTI, 1982). Em conseqüência, o espaço público tem deixado de ser um local de encontro, de prazer, de lazer, de festa, de circo e de espetáculo, perdendo, com isso, seu caráter multifuncional (MARCELLINO et al., 2006).
Assim, embora considerado como um direito legal estendido a todas as faixas etárias, classes sociais, sexos, etnias, segmento da sociedade, entre outros, esses fatores
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que atuam como barreiras, acabam diminuindo, ou até mesmo impedindo, que grande parte da população tenha acesso ao lazer.
Buscando amenizar esses problemas, políticas públicas de lazer, através da construção de equipamentos específicos, têm sido criadas em algumas cidades brasileiras. No entanto, mesmo com a criação desses locais, outros problemas têm sido identificados, pois muitas vezes eles são construídos em zonas que congregam a população de maior poder aquisitivo (região central), minimizando o acesso das pessoas que residem na periferia (MELO, 2003).
Em estudo desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro – RJ, Melo e Peres (2004) constataram distorções quanto à distribuição dos bens culturais em relação à divisão social, pois grande parte dos equipamentos (42%) encontrava-se situados na região do Botafogo, Copacabana, Lagoa, Tijuca, Vila Isabel e Rocinha.
Dias et al. (2008) apresentando resultados parciais de pesquisa desenvolvida no Rio de Janeiro e Niterói (Brasil), Medellín e Bogotá (Colômbia), Caracas e Maracaíbo (Venezuela) e Buenos Aires (Argentina), indicam que nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói a distribuição dos equipamentos de lazer apresentava grande desigualdade, uma vez que das 33 Regiões Administrativas (RA), quatro não possuíam nenhum dos tipos de equipamentos investigados, enquanto a RA central e RA Botafogo tinham, respectivamente, 24% e 16,4%.
A disparidade na distribuição desses bens culturais também foi identificada em Natal -RN, em estudo realizado por Lima (2006). Os resultados indicaram que a cidade apresentava uma distribuição irregular dos espaços públicos de lazer por bairro e região, sendo que se encontravam mais concentrados em determinadas áreas da cidade, com escassez em outras. A centralização dos equipamentos de lazer em Natal – RN, também
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foi constatada em estudo desenvolvido por Oliveira et al. (2004). Na ocasião, os autores verificaram que os ginásios esportivos, museus, teatros, parques ecológicos, entre outros -localizavam-se, em sua maioria, na região central da cidade.
Segundo Marcellino (2002), a centralização dos equipamentos de lazer acaba ampliando ainda mais as barreiras já existentes, principalmente entre as populações menos favorecidas economicamente, pois além de arcarem financeiramente com o transporte de casa aos parques, o deslocamento é muito desgastante.
A falta de conservação e animação sócio-cultural também configuram-se como fatores inibidores das oportunidades de lazer. De acordo com Bramante (1992), na maioria dos investimentos à área de recreação e lazer, cerca de 80% acabam sendo destinados para a construção de recursos físicos, fazendo com que pouco sobre para a manutenção e menos ainda para a animação.
Diante dos fatores que podem agir como barreiras às oportunidades de lazer, este estudo teve como objetivo analisar a distribuição geográfica dos parques de lazer de interesse físico (equipamentos específicos) em Campo Grande – MS, a animação sócio-cultural desenvolvida no seu interior e as populações atendidas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi caracterizada como exploratória, pois segundo Oliveira (2002), esse tipo de investigação possibilita a descoberta de práticas que precisam ser modificadas, assim como permite a elaboração de alternativas que possam ser implantadas.
A avaliação da disponibilização ou não dos equipamentos de interesse físico do lazer e sua distribuição geográfica se deu através de entrevista estruturada (MARCONI
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e LAKATOS, 2002), realizada com um representante da Fundação Municipal de Esportes de Campo Grande e com um representante da Fundação Estadual de Esportes MS.
Para a análise dos programas de animação sócio-cultural foram realizadas entrevistas estruturadas (MARCONI e LAKATOS, 2002) com os administradores dos parques. Na ocasião foi utilizado um formulário criado especificamente para os objetivos deste estudo, sendo o mesmo composto por questões referentes à animação sócio-cultural direcionada à comunidade em geral e a grupos específicos – crianças/adolescentes, adultos, idosos e pessoas portadoras de deficiência -PPD.
A coleta de dados da presente investigação ocorreu no segundo semestre de 2006.
RESULTADOS e DISCUSSÃO
Fundada em 1872 e emancipada em 1899, Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, possui posição privilegiada geograficamente, localizando-se no centro do Estado. A cidade tem mais de 500 hectares de área verde contígua, distribuídos entre parques, reserva ecológica, horto florestal, praças, jardins e ruas arborizadas. Possui 8.096,05 km2 e uma população de 724.524 habitantes (IBGE, 2007).
Embora a ausência de espaços físicos venha sendo citada nas últimas décadas como uma das principais barreiras às oportunidades de lazer, Campo Grande
– MS, dispõe de cinco parques públicos esportivos, sendo que, desses, três são administrados pelo poder público estadual (Parque Airton Senna, Parque Jacques da Luz e Parque das Nações Indígenas) e dois pelo poder público municipal (Parque Belmar Fidalgo e Parque Soter).
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Foto 2 – Parque Jacques da Luz
Foto 3 – Parque das Nações
Soter
Foto 1 – Parque AirtoFno Stoe n3a – Parque das NaFçoõteos 2 I n–dPígaernqause Jacques da Luz
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Em parte, isso se deve ao fato de Campo Grande, mesmo sendo capital do estado, não ter se tornado um pólo industrial, minimizando, desse modo, o deslocamento da população da zona rural para a zona urbana. De acordo com os dados do Perfil Socioeconômico de Campo Grande, a capital possui uma densidade de 21,24 hab/ha, índice considerado baixo quando comparado a outras capitais brasileiras (CAMPO GRANDE, 2005).
Em relação a reserva e distribuição espacial, há de se destacar os cuidados que os governantes e arquitetos tiveram em seu planejamento, pois em 1909 foi solicitado ao arquiteto Nilo Javary Barém a elaboração de um plano de desenvolvimento arquitetônico para a cidade, denominado de “Plano de Arrumamento de ruas e praças”, assim como que o arquiteto desenhasse a primeira planta da cidade. Em 1921 precauções legais quanto à reserva espacial também já era pauta das discussões políticas, sendo essa questão constatada na redação da Resolução nº 043/1921, que em seu artigo 7º determinava a obrigatoriedade de projeção de ruas e calçadas largas, com 50 metros para a avenida principal e 20 metros para as demais ruas.
Outro fato importante foi a influência do arquiteto Jaime Lerner na estrutura arquitetônica da cidade, que no final da década de 70, desenvolveu um plano de reestruturação da infra-estrutura urbana campograndense, sendo seu trabalho baseado em três pontos: trabalho, deslocamento e lazer. Especificamente ao lazer, constou em sua proposta a criação de um sistema de parques lineares e praças locais.
Medidas de reserva e preservação de grandes áreas urbanas como as apontadas anteriormente, foram de suma importância para que os governantes estadual e municipal mobilizassem-se no sentido de criação, manutenção e animação de parques públicos esportivos, principalmente no período de 1998-2004, quando o governo do Estado de
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Mato Grosso do Sul teve a frente da Fundação Estadual de Esporte – FUNDESPORTE (1999-2004) e Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer – SEJEL (2004-2004) o professor de Educação Física Rodrigo Barbosa Terra, responsável pela implantação de uma política pública de lazer cidadã junto ao estado.
Na distribuição dos parques, observou-se que houve uma preocupação com a descentralização dos mesmos, uma vez que dos cinco existentes, três encontram-se em regiões periféricas -Parque Airton Senna (Bairro Aero Rancho), Parque Jacques da Luz (Bairro Moreninhas) e Parque Soter (Bairro Mata do Jacinto) e dois na região central – Parque Belmar Fidalgo (centro) e Parque das Nações Indígenas (Bairro Santa Fé). Contudo, mesmo existindo uma preocupação por parte das autoridades públicas quanto a descentralização desses locais, ainda existe região (oeste) não contemplada com esse bem cultural, além de apenas um parque desse porte por região ser insuficiente para atingir a população dos bairros circunvizinhos.
A ausência desse bem cultural na região oeste pode estar restringindo as oportunidades de lazer da população dessa localidade, pois de acordo com Marcellino (2002) a democratização dos equipamentos públicos de lazer é de suma importância para a elevação das oportunidades de acesso, principalmente entre as classes menos favorecidas economicamente, uma vez que a centralização desses locais acaba minimizando o seu uso. Para o autor, isso ocorre principalmente pelos gastos com a passagem e pelo cansaço oriundo do deslocamento porque, em sua maioria, as pessoas de classe econômica baixa, têm o transporte coletivo urbano como principal meio de deslocamento e este, por sua vez, quase sempre está lotado.
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Nas dependências dos parques verificou-se que todos tinham quadras de areia, quadras esportivas abertas e pistas de caminhada. Além disso, conforme mostra a TAB. 1, alguns possuíam campos de futebol, ginásios e piscinas.
A diversificação dos espaços existentes no interior dos parques de lazer é de grande valia para que diferentes vivências venham a ser experimentadas, pois quanto mais diversas forem as possibilidades maior serão as oportunidades de escolha.
Quanto às atividades desenvolvidas, conforme mostra a TAB. 2, todos os parques ofereciam ao menos um tipo de exercício físico/esporte à população. Todavia, apenas os parques Airton Senna e Jacques da Luz -parques que contam com atividades de interesse físico/esportivo administradas pelos cursos de Educação Física de duas Universidades local e desenvolvidas enquanto extensão -disponibilizavam um conjunto de atividades à comunidade.
A extensão universitária é indicada por Paiva e Marcellino (2004) como uma importante estratégia de maximização das oportunidades de lazer, devendo constituir-se num canal de relacionamento entre a Universidade e os diversos grupos sociais. No entanto, os autores ressaltam que, para tanto, faz se necessário ela não ser desenvolvida apenas enquanto tarefa, mas de forma reflexiva, entendendo seus agentes que essa se constitui numa possibilidade de duplo processo educativo.
Quando analisada a animação direcionada à populações específicas, verificou-se que apenas os parques Jacques da Luz e Airton Sena disponibilizavam atividades às crianças e adolescentes.
Embora prestigiados pela quantidade de atividade, crianças/adolescentes se vêem prejudicadas na animação sociocultural nos parques, porque apenas dois contam
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com atividades específicas a essa população. Esse resultado aponta para uma outra barreira atuando como fator inibidor das possibilidades de lazer: a faixa etária.
Embora na idade adulta as pessoas se vejam ocupadas com as atribuições trabalhistas, uma vez que é nessa fase que as responsabilidades aumentam, fazendo muitas vezes o trabalho produtivo ser tido como o principal campo de atuação, relegando, assim, o lazer a segundo ou último plano (ALVES; ISAYAMA, 2006), os resultados mostram que essa população, juntamente com os idosos, configuram-se como as mais prestigiadas, tanto pela quantidade de parques que disponibilizam esse tipo de atendimento quanto pela quantidade de atividades desenvolvidas neles.
Acredita-se que isso possa estar relacionado ao aumento da divulgação e busca da população pela melhora do bem estar, qualidade de vida e saúde, pois os exercícios físicos podem resultar em contribuições para o aspecto físico, psicológico e social.
Especificamente aos idosos, a disponibilização de atividades físicas sistematizadas em vários parques públicos pode ser decorrente da maior atenção dada a essa população nos últimos anos, principalmente após a criação do Estatuto do Idoso em 2003. E, ainda, pode ser decorrente do aumento da perspectiva de vida, haja vista que em 2002, estimava-se uma vida média de 67,8 anos, devendo atingir os 74 anos em 2020 (VERDERI, 2002) e da preocupação com a qualidade desses anos; pois de acordo com Lorda (2001), ao valor da longevidade, torna-se necessário considerar também a qualidade desses anos a mais.
De acordo com Rauchbach (2001), a prática regular de atividades físicas na terceira idade oferece proteção à saúde e contribui para a recuperação de determinadas funções orgânicas interdependentes.
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As Pessoas Portadoras de Deficiência – PPD’s figuraram como a população mais prejudicada quanto às oportunidades de atividades físicas de lazer, pois apenas o basquetebol adaptado é oferecido em um único parque, e, ainda assim, é trabalhado com base na performance, quando se busca preparar a equipe da cidade para disputar campeonatos.
Percebe-se que além de deficitária, as poucas tentativas de inserção das PPD´s no esporte vem ocorrendo através de competições adaptadas, como o esporte paraolímpico, sendo poucos os avanços no sentido democrático, uma vez que o esporte paraolímpico tem sido conduzido sob o mesmo “ranço” do esporte convencional, predominando os princípios da competição.
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TABELA 1
Equipamentos físicos disponíveis no interior dos parques públicos de Campo Grande – MS
Parques Públicos
Parques Jacques da Luz
Parque Airton Sena
Parque Belmar Fidalgo
Parque Nações Indígenas
Parque do Soter
Ginásio poliesportivo
1
1
-
-
-
Palco para ginástica
1
1
-
-
-
Salas para ginástica
2
2
-
-
-
Quadra esportiva
2
5
2
2
2
Quadra de areia
1
2
2
1
2
Campo de futebol
1
4
1
-
1
Pista de caminhada
1
1
1
1
1
Estádio
1
-
-
-
-
Piscina
2
2
-
-
-
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TABELA 2
Atividades de animação sócio-cultural e população atendida no interior dos parques públicos de interesse físico do lazer
CRIANÇAS/ADOLESCENTES Futsal
Jacques da Luz x
Parques Públicos e Animação Sociocultural Airton Sena Belmar Fidalgo Nações Indígenas X
Soter
Handebol
x
X
Voleibol
x
X
Basquetebol
x
X
Natação
x
X
Ginástica Olímpica
x
X
ADULTOS Ginástica Hidroginástica Caminhada Axé
x x x
X X X X
x x
x
x
IDOSOS Ginástica Hidroginástica Caminhada Axé PPD Basquetebol adaptado
x x x
X X X X X
x x
x
x
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Nesse sentido recorremos aos escritos de Tolocka (2006):
[...], guiado pela lógica capitalista, o espetáculo prega a alegria da alta performance como prazer compensatório ao esforço despendido em sua conquista; legítima-se o sofrimento em nome da ultrapassagem dos recordes. Fala-se em saúde, mas se despreza a qualidade de vida; os índices obtidos legitimam os infortúnios (p. 178).
A carência de atividades de lazer nos parques voltadas para essa população pode estar relacionada à adoção de uma política de animação generalista, pois, para atenderem a um maior número de situações, as políticas públicas de lazer acabam assumindo essa condição e fazem com que aqueles que possuem alguma diferença em relação ao “padrão/normal” (grifo nosso) sejam os mais prejudicados (PINHEIRO, 2003). E mais, pode estar relacionada a uma incapacidade da sociedade em assimilar as respectivas necessidades dessas pessoas (MUNSTER, 2004), uma vez que, “ao longo das épocas e em toda a humanidade, o acesso ao esporte pelos indivíduos portadores de deficiência sempre foi limitado por barreiras estruturais, de equipamentos, e, essencialmente, da ordem social” (AZEVEDO e BARROS, 2004, p. 77).
Dessa forma, no caso das PPD´s, a exclusão acaba ocorrendo duplamente, assim, e como ocorre com grande parte da população brasileira, eles também estão submetidos a um estado de subsistência e, segundo, devido a uma restrição física, sensorial, cognitiva ou comportamental, sua autonomia é prejudicada. Com isso, as barreiras sociais às vezes acabam sendo mais restritivas às oportunidades de lazer que as arquitetônicas (BLASCOVI-ASSIS, 2003). Segundo Blascovi-Assis (2003), em razão desses preconceitos e dos padrões estabelecidos pela sociedade, pessoas com deficiências físicas, mentais, visuais, auditivas ou múltiplas acabam sendo excluídas de quaisquer programações sociais, sendo praticamente inexistente uma opção de lazer em
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sociedade para eles, e isso pode resultar em desastrosas conseqüências, uma vez que possivelmente não terão a possibilidade de escolher seus amigos, brincadeiras, passatempos e, por falta de oportunidades e orientação, não poderão, ou nem saberão, escolher seu lazer.
CONCLUSÃO
Constatou-se a existência de uma razoável distribuição de parques públicos de lazer, apresentando, desse modo, indícios de uma preocupação por parte das autoridades públicas com a democratização do espaço. Contudo, vale ressaltar que Campo Grande faz jus ao seu nome, apresentando uma ampla extensão territorial, devendo os poderes públicos municipal e estadual, individualmente ou em parceria, além de aterem-se à necessidade de manutenção dos já existentes, criarem novos parques, principalmente na região oeste da cidade, onde nenhum equipamento desse porte foi identificado.
Em relação à animação sócio-cultural, problemas foram observados quanto às populações atendidas, sendo apenas os adultos e idosos prestigiados na maioria dos parques. Essa realidade pode restringir as oportunidades de lazer das crianças/adolescentes e deficientes físicos campograndenses, contribuindo para que o direito ao lazer, legalmente outorgado por diversas leis, não seja efetivado.
Assim, faz-se necessário que estratégias sejam criadas a fim de que toda diversidade humana – pessoas portadoras de deficiência ou não, entre outros -, seja atendida, respeitando, com isso, os direitos de todo cidadão.
Com relação às atividades voltadas para os PPD´s, entendemos ser necessário que os macro-equipamentos de lazer de interesse físico através da disponibilização de jogos adaptados e animadores capacitados para atuarem com atividades, tais como
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danças artísticas em cadeira de rodas, tênis de mesa, futebol, judô, goolboll, basquetebol, bocha, natação, atletismo, e outros, sejam democratizados nesses espaços, permitindo a ampliação das possibilidades de vivência do esporte e socialização, configurando-se condição sine qua non para maior socialização entre os PPD´s, ou seja, entre estes próprios e com as demais pessoas, pois disponibilizar atividades de lazer e aparelhos adaptados em parques públicos é uma das possibilidades de educação para o convívio social.
Necessário se faz também que, na criação de novos equipamentos e reordenação da animação sócio-cultural, a população em questão, a exemplo do ocorrido no Parque Airton Sena em 2002, seja ouvida e a realidade local levada em consideração, possibilitando, desse modo, que o direito ao lazer seja usufruído por todos, sem restrição.
Ainda, ressalta-se a importância da intensificação de parcerias entre administração pública estadual e municipal com as universidades locais, no que tange à animação sociocultural dos equipamentos, assim como que o trabalho a ser desenvolvido seja planejado em conjunto com a comunidade local, a exemplo do já ocorre entre a Prefeitura Municipal de Campo Grande e a Universidade Dom Bosco (Parque Airton Sena – Jardim Aero Rancho). Igualmente fundamental é se fazer com que a animação sociocultural seja implantada sob a estrutura piramidal proposta por Dumazedier (s/d), tendo como base da estrutura os animadores voluntários, como intermediários, os animadores de competências específicas e, no topo, os animadores de competência geral.
Por fim, é importante salientar que os dados ora apresentados são relativos apenas aos parques públicos de interesse físico. Assim, necessário se faz que novos
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estudos sejam realizados a fim de investigar a existência e distribuição de outros
equipamentos de lazer relacionados ao interesse físico -praças, campos, ginásios, pistas
de caminhada, estádio, e outros -, como também a investigação de outros interesses
culturais do lazer -museus, cinemas, bibliotecas públicas, parques infantis, teatros, e
outros, permitindo uma reflexão mais aprofundada sobre a política de democratização
do espaço para o lazer e animação sócio-cultural em Campo Grande – MS.

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